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1/05/2009

LIVROS DE PEDRA

Autoria: DEGRACONIS

A abertura do tópico Livros de Pedra não foi acompanhada de nenhum post. Contudo e visto ser um tema de grande interesse optamos por complementa-lo com um pequeno ensaio que levanta algumas questões. Não queremos no entanto confinar esse tópico ao assunto agora apresentado, mas dar algum relevo a um assunto que talvez merecesse maior destaque do que a simples inclusão no fórum.

Determinar a evolução da emblemática Templária e da Ordem de Cristo tem sido alvo de muito controvérsia e encontra-se ainda longe de conclusões definitivas. A cruz templária designada como pátea foi a forma que maior divulgação teve entre os Templários Portugueses, não obstante aparecer no resto da Europa, principalmente em França, mas raramente.

O seu aparecimento em algumas zonas de Portugal levou a que alguns estudiosos atribuíssem essas zonas como possessões ou comendas Templárias, quando tal parecia improvável. Entretanto estudos posteriores concluíram que essas cruzes não tinham origem Templária, mas que era um emblema ou símbolo utilizado no período paleocristão.

Pode-se e tem-se afirmado que a cruz pátea, independentemente da sua origem ainda mais recuada e no oriente, ter servido de modelo à cruz adoptada pelos Templários. O facto dessas cruzes estarem disseminadas pelo território poderia seria uma forma de simular perante o inimigo a presença da Ordem Templária.

Se todos nós já conhecemos os ensaios que atestam a existência dessa cruz em documentos de pedra em períodos bastante recuados, como por exemplo o trabalho publicado do Gandra dado a conhecer na abertura do post, entre tantos outros, nenhum conhecemos que intente numa aproximação similar para as cruzes da Ordem de Cristo. Ok, aqui vamos nós…

A cruz patente num emprazamento realizado pelo Mestre João Lourenço em 1322, é porventura a mais remota representação da cruz da Ordem de Cristo, assim como a cruz gravada em pedra datada de 1357. Esta cruz tem as bases das extremidades dos quarto braços planas. Outra imagem, mas posterior, do ano de 1400 já apresenta a cruz com as extremidades ligeiramente côncavas. Alem destas e de outras posteriores a 1400, conhece-se a cruz que o anjo segura na iluminura da Leitura Nova e que deixa perceber como seria a Charola nessa altura do Infante D. Henrique e D. Manuel. De notar que as variações à cruz são diversas, e este estudo se concentra essencialmente nas formas gravadas em pedra.



Antes de avançar mais temos então que recuar. Recuar para tomar impulso.

As estelas apresentadas no início do tópico do forum são quase todas, senão todas, provenientes da zona de Mértola, faltando no entanto algumas que também se assemelham à cruz dos Templários Portugueses. Darei a conhece-las no fórum. No entanto é de ressaltar que algumas das outras estelas encontradas têm sido esquecidas nestes estudos. Porquê esquecidas? Porque não tem semelhança com o objecto desses estudos que é o de demonstrar que a cruz pátea tem tradição anterior ao sec. XII, pois são do século VI ou VII.

Acontece porém que essas outras estelas têm sido esquecidas porque não se equiparam com as dos Templários, equiparam-se no entanto com as da Ordem de Cristo. Podem ser um modelo que as influenciou, e mesmo que não seja ficam aqui como uma curiosa coincidência.

Repare-se que uma das cruzes, porventura a que pela sua nitidez mais se assemelha à cruz da Ordem de Cristo em período Infantino e Manuelino, encontra-se envolta numa espécie de corda manuelina (e isto mil anos antes do seu aparecimento como estilo decorativo ou arquitectónico).

No estudo do Gandra, ao qual podem aceder através do link colocado num post, podem ver o que se pensa talvez ser a cruz mais antiga da Ordem de Cristo, se bem que não tem legenda e talvez não saibam identificar. Não consigo colocar aqui a imagem. Encontra-se esta num selo pendente, preso por tiras de cabedal datando de 1231. Encontramo-nos diante o selo do designado Mestre do Templo para os três reinos, ou melhor dizendo, Prior do capítulo peninsular daquela ordem. De salientar o facto muito interessante de nesse selo se revelar uma cruz idêntica a da Ordem de Cristo que, como se sabe, veio a nascer da do Templo.

Pode-se então admitir, portanto que em Portugal os Templários já tivessem começado a fazer uso de uma cruz deste tipo. Isto pode ser visto no livro do Marques de Abrantes “Sigilografia Medieval Portuguesa”, que tentarei digitalizar.

Ou seja, podiam ter sido os próprios Templários a produzir uma das cruzes que veio a ser emblema e insígnia da Ordem de Cristo, e fizeram-no quer para o seu próprio símbolo quer para a ordem sucedânea na qual foram reintegrados, recorrendo a símbolos ancestrais encontrados em território nacional. Isto apenas reforça o que anteriormente ensaiei, ou seja, nada nasce do nada. Os templários forem portadores dessa herança simbólica e transmitiram-na às gerações vindouras.

COMENTÁRIOS NO TÓPICO "LIVROS DE PEDRA" DO FORUM

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Nota de rodapé
Não sou muito versado nesta coisa das cruzes e não sei se já existe alguma abordagem semelhante a que faço aqui, ou se até é apenas um delírio meu. Fica ao vosso critério. Ideias excêntricas não têm que ser propriamente falsas mas sim discutidas.


Este post de última hora é apenas um interregno para um outro que se está a preparar sobre Tomar, pois nem estava para ser feito, mas achamos que podia reforçar a ligação entre o blog e o forum.

O título do post é da autoria do Scaliburis, ao qual agradecemos.